segunda-feira, 30 de abril de 2012

Resenha crítica da história de Arroio dos Ratos contada pelo Cônego Lothar Sulzbach em seu livro

Prof. Pedagoga Norma Denise Macedo de Paula

Arroio dos Ratos situa-se, de forma privilegiada, próximo a 54 Km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, cortada pela BR290 e banhada pelo arroio cujo qual tem seu nome e deu origem ao nome da cidade, segundo uma das versões a respeito do significado do nome do município.
Arroio dos Ratos é uma das formas  de ligação dos municípios de Butiá, São Jerônimo, Charqueadas, Barão do Triunfo, permitindo acesso a diversas regiões do estado do Rio Grande do Sul, também faz parte do itinerário de ligação entre a capital do Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e a fronteira do Brasil com o Uruguai. Os limites de Arroio dos Ratos são os municípios de São jerônimo, Eldorado do Sul, Charqueadas, Barão do Triunfo.



Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arroio_dos_Ratos#Geografia
Contém 386 quilômetros quadrados. A vegetação do município é basicamente campos, várzeas, cerros; o solo favorece a agricultura e a pecuária, também a exploração do carvão mineral. A vegetação permeia entre nativa e matas ciliares, muito devastada pela mão do homem, não sendo respeitada pela maioria dos proprietários de terras a margem do arroio, tendo em vista que por lei faz parte das APPs ( Área de Proteção Permanente, conheça parte do código lei:
Áreas de Preservação Permanente
"As Áreas de Preservação Permanente são áreas de grande importância ecológica, cobertas ou não por vegetação nativa, que têm como função preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas. Como exemplo de APP estão as áreas de mananciais, as encostas com mais de 45 graus de declividade, os manguezais e as matas ciliares. Essas áreas são protegidas pela Lei Federal nº 4.771/65 (alterados pela Lei Federal nº 7.803/89).

Qualquer intervenção em APP deve requerer autorização do DEPRN. Caso contrário, será considerada crime ambiental, conforme dispõe a Lei Federal nº 9.605/98, passível de pena de detenção de um a três anos e multa de até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por hectare danificado.
Código Florestal - Art. 2o
Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;

2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45o, equivalente a 100% na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo."


Segundo Sulzbach referindo-se a paisagem arroio ratense "...seus vários cerros, se descortina a cada passo e em todos os ângulos, panorâmica consentânea com o mais lindo paisagismo pátrio", uma colocação perfeita, pois de fato nossos cerros apresentam até os dias de hoje uma pequena amostra da vegetação natural da Mata Atlântida.





O cultivo da silvicultura, introduzida por motivos econômicos e políticos pela atual Empresa Riograndense situada em Guaíba, em seu período de expansão prejudicou de certa forma nossa paisagem natural transformando-a de forma radical. Hoje devido algumas leis, é vedada o aumento da área  de plantio, apenas permitindo em áreas onde o cultivo já existia e tendo regras de preservação ambiental rígidas.
Segundo Sulzbach "não há fontes fidedignas no arcabouço histórico, nem documentos esclarecedor a respeito. Há apenas referências analógicas que nem o consenso popular conseguiu endossar... - As indagações se sucedem... - As respostas são vagas."
Também segundo Sulzbach "Os dados mais remotos encontrados, e que estão a permitir valor analógico, estão nos arquivos da cúria metropolitana de Porto Alegre e foram dados pelo Reverendo Mons. Rubem Neis.
Outro sim existe um mapa elaborado pelo Padre Tomás Clarque do município de Triunfo no período da organização de sua paróquia do Bom Jesus em 1756, conta o cônego Sulzbach que Francisco Ratto foi agraciado com uma sesmaria do Governo Imperial aproximadamente entre os anos de 1780-1790.
Em 1853, viajando a procura de jazidas de carvão james Johnson, desbravador inglês, chegou no Faxinal ( hoje localidade pertencente ao município de São Jerônimo), onde iniciou seu trabalho de mineração. Segundo a Monografia de são Jerônimo, escrita pelo Dr. Carlos Alfredo Simch, o minério já havia sido descoberto por escravos em 1826.
Todavia a descoberta do Faxinal, possuiu também versões anteriores contadas pelo cônego sulzbach em suas pesquisas relatadas em seu livro sobre a cidade de Arroio dos Ratos.
Conta os dados históricos, que James Johnson escavou o solo do Faxinal, retirou uma amostra do carvão encontrado e com a permissão do presidente da província iniciou a extração do minério.
O carvão era transportado por mulas até o porto de São jerônimo, no percurso tinham que atravessar o arroio que banha Arroio dos Ratos em barcaças e seguiam viagem até o seu destino. Chegando ao porto de São Jerônimo era transportado por barcos até a capital. Anos depois com a instalação ferroviária, saia de Arroio dos Ratos, Butiá e Charqueadas direto para a capital, Porto Alegre, onde além de outras utilidades abastecia a Usina do Gasômetro, esta fornecia energia a capital.
Após a licença de exploração ter sido dada a James Johnson, o mesmo retornou a sua Pátria Mãe, a Inglaterra, para  buscar recursos humanos e financeiros; juntamente com seus patriotas fundou a "The Imperial Brazilian Collieries C. limited" em 1872, na Mina de Arroio dos Ratos, nome dado em homenagem ao arroio que faziam a travessia para chegar a mina e/ou retornar.
No retorno a Inglaterra, James Johnson trouxe consigo algumas famílias como os Johnson, Webster, Smith, Beardworthe.
Durante o período da colonização, no final do séc. XX, alguns imigrantes vieram para a região e se estabeleceram onde hoje são cidades muito próximas à Arroio dos Ratos. No Barão do Triunfo ( colonizadores italianos), em mariana Pimentel (imigrantes poloneses) e em Sertão do Sant'Ana (imigrantes alemães).
Os australianos Antônio e Otto Hampe vieram também com suas famílias para trabalhar na perfuração dos poços I, II, III.
O apogeu da mineração foi no período que compreende as décadas de 40 e 50 do século XX, totalizando 3000 operários.
Neste mesmo período a população de Arroio dos Ratos compreendia uma média de 10000 habitantes.
A população arroio ratense utilizava como forma de comunicação a lingua pátria, posteriormente sendo abrasileirada e criando um misto de português com colóquios herdados e o vocabulário gaudério (lingua gaúcha).
Com o declínio da extração do carvão a população começou uma emigração em busca de novas oportunidades de trabalho em outras localidades.
Após a emancipação de Arroio dos Ratos em 1964, o município começou a reestruturar sua economia e obteve, segundo o censo de 1980 um acréscimo de pessoas residentes no local.
As primeiras conversas a respeito dos problemas sérios que vinham ocorrendo na localidade devido o êxodo populacional, foi durante a comemoração do casamento realizado no Rincão dos Américos, cujo qual o Cônego Lothar Sulzbach equivocou-se com o nome dos noivos em seu livro. O senhor Devino Mezzari (escrivão) e senhor Sedino Vieira (juíz de paz), durante o festejo, de que o local teria condições de pleitear a emancipação da cidade de Arroio dos Ratos ( distrito de São Jerônimo no período). Devido o senhor Devino Mezzari ter maior discernimento sobre a documentação necessária para o tão sonhado movimento emancipacionista se tornar real, tomou a frente nos quesitos burocráticos.
No dia 31 de janeiro de 1964, em assembléia geral, com participação de 136 pessoas representantes da sociedade arroio ratense foi determinado a diretoria emancipacionista comporta por:
Presidente: Pe. Ervino Lothar Sulzbach
Vice-presidente: Caetano Dalbem
2º vice-presidente: Vicente Lopes Mendes
Secretário: Devino Mezzari
2º secretário: João Marek
3º secretário: Santo Jerônimo da Silva
Tesoureiro: Donato Garcia
2º tesoureiro: Pedro Nugent de Mello
3º tesoureiro: Oscar Barros
Durante a assembléia também solicitaram a palavra os senhores Adário Meneses, Evilásio fraga e Dr. Alberto Veit.
Mesmo com alguns problemas, pois o partido PTB, segundo Sulzbach não era a favor da emancipação, porém o cônego não cita em seu livro o motivo pelo qual o partido se posicionava desta forma. E, também devido a burocracia política e documentária, como prazos para entrega de documentações, mesmo assim os lideres emancipacionistas não desistiram de seus ideais.
Após receber apoio político partidário na Assembléia Legislativa por parte da maioria dos deputados, e mesmo com uma campanha instaurada dentro da cidade por oposicionistas , no dia 28 de dezembro de 1964, o Sr. Ildo Meneguetti (então Governador do Rio grande do Sul) assina o decreto lei que emancipa Arroio dos Ratos.
Ao termino da assinatura e promulgação da emancipação, vem outro dilema, a primeira eleição do referido recém município Arroio dos Ratos. Foram criado os diretórios e a escolha de seus candidatos que concorreriam ao cargo de prefeito, vice-prefeito e vereadores.
Formaram uma integração de alguns partidos intitulada Frente Popular, onde apenas o PTB não participou, apenas apresentou os seus candidatos para a eleição, segundo Sulzbach.
No dia 4 de abril de 1965 realizaram a primeira eleição e foram eleitos pela maioria dos votos:
Prefeito: Naro Pereira da Silva
Vice-prefeito: Sedino Vieira.
A partir do momento em que o município havia se emancipado e diante de seus representantes eleitos, iniciou um processo de recuperação de caráter financeiro e lentamente retornou a evoluir, inúmeras foram as ações em benefício de sua população, bem como a reestruturação paisagística.
Infelizmente algumas heranças históricas, perderam-se por não ter sido previsto o tombamento de alguns prédios e documentos (registros históricos). Prédios forma vendidos e seus proprietários através de reformas foram trocando as características originais, pouco restara da história de um município tão rico culturalmente. Um exemplo deste fato que cito, foram as casas geminadas quase que sua totalidade foram destruídas e seus proprietários fizeram novas moradias nos locais, outrossim, o Hospital sarmento Leite, construídos pelos mineiros, a bem poucos anos sofreu uma reforma em sua fachada que trocou toda a característica original do prédio (patrimônio histórico dificilmente recuperado). A casa onde houve a estada da princesa Isabel ainda existe, com diversas modificações, e pior de todas nunca foi tombada como patrimônio histórico do município, hoje pertence a uma pessoa particular, cujo qual utiliza como fonte de renda em forma de aluguel.
Meu objetivo com estas colocações é fazer o povo arroio ratense refletir sobre sua história. Também esta se tornar parte do currículo escolar como fonte de pesquisa e de busca a novas fontes.

Referências Bibliográficas:
Sulzbach, Pe. Ervino Lothar - Arroio dos Ratos, berço da indústria carbonífera nacional - 2ª edição - produção independente, apoio COPELMI.
Fotos feitas pela autora deste texto frente as localidades.




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